domingo, 15 de abril de 2012

Amor

6ª Carta





Paciente amigo,


                                    Meses se passaram desde que li pela primeira vez seus últimos versos. A verdade é que por muito tempo estive estagnado em meio à correria do mundo. Estive perdido junto ao comodismo que tanto necessitava. Confesso que ainda hoje não consigo, da forma que gostaria, discutir sobre a superficialidade de tal sentimento. Por isso, hoje faço de minhas palavras, o concreto do pouco que me cabe sobre o amor que sinto (ou que um dia senti).
Usarei das palavras de Simone Beauvoir, ao referir-se à separação de Sartre, para dar inicio ao vazio que me cabe. “Sua morte nos separa. Minha morte não nos reunirá. Assim é: já é belo que nossas vidas tenham podido harmonizar-se por tanto tempo.” Talvez o avesso do que realmente é, mas o ínfimo do que na verdade entendo por amor.
Quando vivido intensamente, o amor deixa na alma, marcas dilacerantes. Por mais que possa ser questionada, ou até mesmo dimensionada, a reminiscência de situações passadas torna aqueles momentos vividos no presente, inócuos e desprovidos de significação. E o amor, amor que tudo supera, transforma-se em restos que insistem em se expressar através de lágrimas. O que antes era vivo e tão completo transforma-se em vazio. O significado se perde em meio à tanta angústia que busca um simples “por que” de tanta dor.
Amor, sublime forma de inspiração dos apaixonados que, sob sua magia já erigiu os mais lindos cantos e elegias de dor. Se o amor carece de uma conceituação mais precisa quanto ao seu significado, a inspiração dos poetas converge no sentido de torná-lo dor d’alma diante das imensas definições que o mesmo possa ter.
Mas como disse, foi do lado avesso que dei inicio ao enorme vazio que me cabe. Sua ausência nos sufoca, e seu excesso nos ilude. Por tal motivo tive tanta dificuldade em escrever. O amor que empresta significado às nossas vidas me esteve por muito tempo oculto. “Tive a sensação de cair num abismo infinito e de que não iria ver a superfície outra vez, pelo menos não do mesmo modo”. Foi então que por meio da simplicidade encontrei o que tanto buscava.
Foi através da simplicidade que descobri no sorriso de uma criança, um olhar de esperança. Amor é o trem que parte rumo ao desconhecido, levando sonhos e ilusões daqueles que ficam e daqueles que se vão. É o nada e o tudo, mas nunca o fim, sempre o princípio.
“Assim é: já é belo que nossas vidas tenham podido harmonizar-se por tanto tempo.” E por tanto tempo a esperança que reside em um novo olhar.  Não mais irei ver a superfície, “pelo menos não do mesmo modo”. Isso porque hoje, o amor que vivo, se aproxima mais do que defino por amizade. Eis a amizade, suporte de meu mundo.
Por fim concluo sobre o amor que vivo. Sentimento que torna dócil e meigo o próprio ódio: nada, nem ser existente, resiste ao encanto de sua fragrância e magia. E como sentimento, sentimento capaz de dar forma ao abstrato, é a própria esperança, capaz de escorraçar o ódio dos corações humanos.
Peço perdão pela espera, e sobre a mesma, aguardo suas próximas palavras.

                                                                                                             Seu grande amigo.
                                                                                                      
                                                                                        

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