Nem sempre aquele que olha vê. Porque ver é um pouco mais do que simplesmente olhar. Olhares apressados são olhares que enxergam pouco. Quem não demora no que vê, corre o risco de apenas esbarrar na imagem. Olhares são realidades que investigam, sondam, descobrem e revelam.
Fico pensando no mistério do olhar que demora. Daquele que se ocupa com calma de tudo que encontra pela frente. Olhar devagar é tão raro nos dias de hoje. Este mundo de muitos atractivos, queremos ver muitas coisas ao mesmo tempo. Nestes dias apertados em que situamos nossas vidas, neste tempo de correrias intermináveis, nós perdemos o dom de olhar as coisas, as pessoas e os fatos com a calma que lhes são merecidos.
Olhar com pressa não é próprio de quem ama. O olhar calmo nos faz perceber o que as palavras não contam. Perdemos de vista as pessoas que amamos quando para elas não olhamos com calma, ainda que permaneçam ao nosso lado. Ninguém pode conhecer o outro se não dispensar tempo para olha-lo. Caso contrario, teremos uma visão de superfície. Não atingiremos a profundidade do que o outro é. A intimidade é fruto do muito observar. E ser intimo é desenvolver uma linguagem em que não cabem os equívocos. Você tem até o direito de dizer que não entendeu nada do que o outro lhe disse, mas jamais poderá dizer que não entendeu o jeito como o outro olhou para você. Por uma razão muito simples, os olhos não mentem. Se quisermos de fato conhecer as verdades dos outros, devemos olha-los com calma.
Fico pensando no desafio de estabelecer laços fecundos nesses tempos tão marcados por relações superficiais. A psicologia nos ensina que os laços duradouros nem sempre são laços sanguíneos. Ser parente de alguém não representa muita coisa quando o assunto é intimidade, cumplicidade, duração. Pode ser que você já tenha vivenciado maior profundidade e abertura com um amigo do que com um próprio irmão de sangue. A isso muitas vezes está associado o fato de sermos tão tímidos na construção da intimidade dentro de casa. Pelo fato da gente morar na mesma casa, comer na mesma mesa, corremos o risco de nos acostumar uns com os outros. Corremos o risco de viver uma intimidade que não é intima, mas apenas o cumprimento de um ritual que nos foi imposto.
Esse é o grande problema, amor não é costume, mas é surpresa constante. É novidade, é movimento, é ciclo que não para. Amor é desejo constante, não eufórico de estar junto, mas de olhar com calma, de enxergar bem, de ver com detalhes. Os olhares demorados são essenciais para que a beleza possa continuar existindo. Amor conjugal precisa de calma para durar no tempo. Conquistar é o verbo de toda hora. O amor só pode sobreviver se for alimentado. Amor não é milagre, mas é dom de Deus que se transforma pela força do empenho humano.
Ou descobrimos o dom de olhar com calma, ou com o tempo vamos descobrir que a vida passou e ninguém nos conheceu de verdade. Seremos estranhos a nós mesmos. Não podemos permitir que a pressa dos acontecimentos fragilize a qualidade de nossas vidas. Tenho certeza que você esta rodeado de pessoas que merecem a demora de seu olhar. Aceite o desafio de andar pequenas distancias. Se desapegue aos olhares apressados. Perceba nos olhares com calma a verdadeira beleza que a vida oferece.
Nenhum comentário:
Postar um comentário