Olho ao meu
redor e descubro que as coisas que quero levar não podem ser levadas. Excedem
aos tamanhos permitidos. Já imaginou chegar ao aeroporto carregando o colchão
para ser despachado?
Desisto.
Jogo o que posso no espaço delimitado para minha partida e vou. Vez em quando
me recordo de alguma coisa esquecida, ou então, inevitavelmente concluo que
mais da metade do que levei não me serviu pra nada.
É nessa hora
que descubro que partir é experiência inevitável de sofrer ausências. E nisso
mora o encanto da viagem. Viajar é descobrir o mundo que não temos. É o tempo
de sofrer a ausência que nos ajuda a mensurar o valor do mundo que nos
pertence.
E então
descobrimos o motivo que levou o poeta cantar: “Bom é partir. Bom mesmo é poder
voltar!” Ele tinha razão. A partida nos abre os olhos para o que deixamos. A
distância nos permite mensurar os espaços deixados. Por isso, partidas e
chegadas são instrumentos que nos indicam quem somos, o que amamos e o que é
essencial para que a gente continue sendo. Ao ver o mundo que não é meu, eu me
reencontro com desejo de amar ainda mais o meu território. É conseqüência
natural que faz o coração querer voltar ao ponto inicial, ao lugar onde tudo
começou.
É como se a
voz identificasse a raiz do grito, o elemento primeiro.
Vida e
viagens seguem as mesmas regras. Os excessos nos pesam e nos retiram a vontade
de viver. Por isso é tão necessário partir. Sair na direção das realidades que
nos ausentam. Lugares e pessoas que não pertencem ao contexto de nossas
lamúrias... Hospitais, asilos, internatos...
Ver o
sofrimento de perto, tocar na ferida que não dói na nossa carne, mas que de
alguma maneira pode nos humanizar.
Andar na
direção do outro é também fazer uma viagem. Mas não leve muita coisa. Não tenha
medo das ausências que sentirá. Ao adentrar o território alheio, quem sabe
assim os seus olhos se abram para enxergar de um jeito novo o território que é
seu. Não leve os seus pesos. Eles não lhe permitirão encontrar o outro. Viaje
leve, leve, bem leve. Mas se leve.
(Pe. Fábio de Melo)
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